Quanto vale o show?
Passadas 6 semanas desde o início dos campeonatos estaduais, regionais e continentais na América do Sul, a velha polêmica sobre como solucionar o decrescente apelo dos estaduais, a luta entre os interesses dos clubes x federações e o excesso de jogos para apenas um mês e meio de temporada voltaram a tona.
Nessa semana o consultor de marketing esportivo Amir Somoggi publicou em sua coluna no Lance um post sobre a falência dos Estaduais, comprovando que o apelo dos Estaduais está a cada ano diminuindo.
Na minha pesquisa de mestrado, aproveitei e perguntei aos entrevistados quais os campeonatos que os torcedores preferiam para ir ao estádio, e o resultado foi o seguinte:
1) Copa Libertadores da América
2) Campeonato Brasileiro
3) Copa do Brasil
4) Copa Sulamericana
5) Campeonatos Estaduais
6) Campeonatos Regionais (Ex: Copa do Nordeste)
Baseado nos dados levantados na pesquisa efetuei uma comparação até o momento da média público e renda, da taxa de ocupação e do ticket médio para os campeonatos disputados. Os números são os seguintes:
1) Copa Libertadores da América ( até os jogos da semana de 07/03/16)
Público Médio - 33,3 mil pagantes
Renda Média - R$ 1,982 milhões
Taxa de Ocupação - 78%
Ticket Médio - R$ 59,38
2) Copa Primeira Liga ( fase de grupos)
Público Médio - 11,8 mil pagantes
Renda Média - R$ 325 mil
Taxa de Ocupação - 28%
Ticket Médio - R$ 23,96
3) Campeonato Paulista (até R8)
Público Médio - 6,7 mil pagantes
Renda Média - R$ 253 mil
Taxa de Ocupação - 29%
Ticket Médio - R$ 25,93
4) Copa do Nordeste ( até R4)
Público Médio - 3,9 mil pagantes
Renda Média - R$ 45,4 mil
Taxa de Ocupação - 16%
Ticket Médio - R$ 11,68
Com os números acima é possível chegar às seguintes conclusões:
- O comportamento do torcedor brasileiro em 2016 possui alta correlação com os resultados da pesquisa até o momento;
- A média de público dos times brasileiros na Liberadores só é inferior a média de público pagante da Bundesliga (42,8 mil) e da Premiere League (36, 1 mil) de acordo com o site ESPNFC., comprovando que quando o produto tem valor o torcedor comparece e consome;
- a média de público da Primeira Liga até o momento é devido a 3 jogos (Atlético Mineiro x Flamengo, Atlético Paranense x Criciúma, Grêmio x Internacional). Sem esses 3 jogos a média cairia para 7,1 mil /jogo, mesmo assim, a média é superior ao Campeonato Paulista;
- Corinthians (119 mil) e Palmeiras (102 mil) são responsáveis por 41% do total de público do Campeonato Paulista. Sem os dois times a média de público seria em torno de 4 mil pagantes/jogo;
- No Campeonato Paulista, considerado o mais rico do país, aconteceram até o momento 12 jogos com público abaixo de 1000 pagantes. O recorde negativo pertence a Mogi Mirim x Linense com 291 pagantes.
- Os times do interior que mandaram jogos contra os 4 grandes em seus respectivos estádios não conseguiram mais do que 52% de taxa de ocupação, não atraíram mais do que 10 mil pagantes. Conseguiram em média R$ 400 mil de renda bruta cobrando R$ 41,92 /ingresso. Um valor 12% inferior ao ticket médio do Palmeiras e 20% inferior ao ticket médio do Corinthians, ambos em suas respectivas modernas arenas;
- Em 40 jogos, apenas duas partidas tiveram público acima de 10 mil pagantes pela Copa do Nordeste (Ceará x Sampaio Correa - 12,1 mil pagantes e Santa Cruz x Bahia - 10,5 mil).
- Na Copa do Nordeste, considerado um torneio de sucesso de público, aconteceram até o momento 9 jogos com público abaixo de 1000 pagantes. O recorde negativo pertence a Vitória da Conquista x Flamengo PI com 122 pagantes.
- No jogo Salgueiro x Campinense pela Copa do Nordeste tivemos o bizarro ticket médio de R$ 1,82, com preços variando de R$ 4,00 a R$ 1,00 com direito a meia entrada e o público pagante foi de 1,4 mil!!
Os dados acima demonstram que o torcedor percebe o valor de cada produto ofertado, sabendo exatamente onde é valido pagar pelo que vale o jogo. Por outro lado, fica claro que sem uma estratégia de marketing bem definida, o torcedor não vai ao estádio nem quando o preço é muito baixo.
Já passou da hora do profissionalismo definitivamente fazer parte da gestão dos clubes brasileiros, pois a cada geração corremos o risco de ver nosso filhos, sobrinhos e filhos dos nossos amigos torcendo para os clubes europeus ou acompanhando outros esportes como a NBA e a NFL, pois o apelo de ir ao estádio está ficando cada vez mais restrito a poucos times e a poucos torneios.
Os números até o momento são pouco promissores para um país que ainda se intitula "O País do Futebol". Em breve corre-se o risco de que o futebol se transforme em um produto consumido apenas por gerações mais velhas, sem atrativos para a geração milênio, algo que já está ocorrendo com o Beisebol nos Estados Unidos.
Aracy de Almeida |
Era a diversão de uma geração assistir aos jurados e aos calouros. Essa geração foi envelhecendo e a nova geração quase não assiste mais ao programa Silvio Santos. O futebol brasileiro caminha a passos firmes para o mesmo destino da audiência de Silvio Santos.
Devido ao atual baixo nível dos calouros do futebol brasileiro e a falta de perspectiva de mudança o torcedor se pergunta:
Quanto vale o show?
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