A Verdadeira Independência



Durante essa última semana tivemos mais um embate entre Palmeiras e W Torre referente ao jogo Palmeiras x América MG marcado previamente para o dia 22/06 e que causou uma série de protestos dos torcedores, além de duas mudanças de local e data do jogo. Não bastasse essa notícia, dois dias depois, mais um evento tiraria o Palmeiras do seu estádio no clássico contra o Santos para um evento religioso. Essa série de alterações começou a irritar os donos dos camarotes, que em sua grande maioria, fecharam o negócio devido aos jogos do Palmeiras.

Devido a essa situação surgiu a seguinte dúvida:

Por que não vemos os grandes times do mundo jogando fora das suas arenas devido a algum show/evento?

Resolvi efetuar uma rápida pesquisar no site de várias arenas multiuso em nível internacional para checar as agendas de shows e jogos e a conclusão que foi possível constatar é que, nas arenas dos grandes clubes europeus praticamente todos os eventos do ano são voltados para os jogos de futebol. Além dos jogos, as outras fontes de receita são eventos corporativos, visita guiada, além de shopping, restaurantes que ficam dentro do estádio.

Para quem quiser checar os dados, seguem os links:







Devido a prioridade dos principais clubes europeus ser os jogos de futebol, eventos corporativos e visitas guiadas, também fiz uma pesquisa com as principais arenas norte americanas, que possuem maior tradição em explorar com mais eventos durante a temporada. O que foi possível de se verificar foi que, em praticamente todas as arenas, a prioridade durante a temporada são os jogos, sendo os shows e outros eventos agendados intercaladamente em semanas em que os times estão jogando fora de casa.

Seguem alguns exemplos:






Podemos chegar a algumas conclusões:

- A prioridade dos estádios na Europa e Estados Unidos são os eventos esportivos. Os demais eventos são agendados quando não há jogos agendados. O objetivo desse decisão é não prejudicar os times e principalmente os torcedores, proprietários de camarotes, patrocinadores do estádio, que investem para ter o retorno nos dias dos jogos de toda a temporada;

- Por haver um claro entendimento de todos os envolvidos que os jogos rentabilizam todos os stakeholders, a gestão eficaz da arena é totalmente voltada para conseguir o maior faturamento e rentabilidade possível para todos os parceiros, priorizando o negócio ao invés de interesses individuais e políticos;

- O excesso de jogos no meio da semana no calendário brasileiro e sulamericano também pode ser um dos principais motivos dessa situação, pois os times, ao invés de jogarem 2 a 3 jogos por mês no seus estádios, atualmente jogam 4 a 6 vezes, praticamente inviabilizando datas para outros eventos sem que os times não sofram com a necessidade de jogar em outros estádios;

- Em termos financeiros a consequência do excesso de jogos é a queda de receita, pois os torcedores não têm disponibilidade para 4  a 6 por mês, além dos horários que inviabilizam a ida aos estádios durante em jogos sem atrativos no meio da semana. Fora essa situação, existe a queda de qualidade dos jogos devido ao pouco tempo de recuperação física e aprimoramento individual e coletivo, prejudicando o espetáculo;

- Como frequentador do Allianz Parque, a arena praticamente não oferece nenhum atrativo pré o pós jogo, fazendo com que não consiga aumantar suas receitas com o match day (restaurantes, lojas, bares, etc). Essa situação faz com que os torcedores consumam fora do estádio, criando uma enorme fila para entrar, fazendo com que até 20% dos torcedores consigam entrar após o jogo ter iniciado em jogos de grande movimento.

No livro " O Poder da Ação" de Paulo Vieira, o autor menciona que todos são responsáveis pelas ações e as suas consequências, e como todos são responsáveis, o autor sugere seis leis para a conquista da autorresponsabilidade:

1) Se for criticar as pessoas, cale-se
2 Se for reclamar das circunstâncias, dê sugestões
3) Se for buscar culpados, busque a solução
4) Se for se fazer de vítima, faça-se de vendedor
5) Se for justificar seus erros, aprenda com eles
6) Se for julgar alguém, julgue a atitude dessa pessoa

Baseado nos dados levantados, nas minhas conclusões e nas leis da autorresponsabilidade, sugiro as seguintes ações estruturais para tentar solucionar o imbróglio Palmeiras x W Torre e outros prováveis problemas futuros:

- Juntar o maior número de presidentes com visão progressista, com foco na gestão, na qualidade do espetáculo e no torcedor visando:

  • Reduzir o número de jogos do calendário nacional, principalmente as 18 datas que a CBF definiu para os estaduais a partir de 2017;
  • Fazer com que os torneios sulamericanos sejam disputados durante toda a temporada e em paralelo;
  • Exigir que tanto a Conmebol como a CBF divulguem o calendário até o final do ano, para que posteriormente seja possível agendar outros eventos nas datas disponíveis;
  • Exigir da CBF que as datas e horários dos jogos sejam definidos juntamente com a divulgação da tabela;
  • Quebrar o monopólio da CBF nas decisões e criar a Liga Nacional de Futebol, tirando o poder das Federações Estaduais;

- Rever o contrato com a W Torre para que seja possível definir premissas para o agendamento de outros eventos, ex:
  • Prazo máximo para agendar um evento (ex: 90 dias de antecedência). Dessa forma o Palmeiras não seria "surpreendido" com esses dois eventos de junho;
  • Decisões de comum acordo e não unilateral sobre o calendário de eventos;
  • Envolver os patrocinadores, torcedores, donos de camarotes para a tomada de decisão de acordo com os interesses de todos;
  • Parceria entre Palmeiras x W Torrre para criar atrativos para os torcedores pré e pós jogo, ex: restaurantes, bares, eventos preliminares.
Essas sugestões e soluções são de difícil implementações, mas devem, no mínimo, servir de um direcionamento visando uma melhoria na situação atual. 

No seminário sobre o Calendário do futebol Brasileiro durante a Semana da Evolução do Futebol promovido pela CBF, Carlos Alberto Parreira menciona que o calendário tem que atender aos interesses políticos, financeiros e técnicos. Infelizmente o que vimos nessa primeira versão, foi atender aos interesses políticos do que os outros dois. Esse comentário vai ao encontro do que o ex CEO do São Paulo, Alex Bourgeois, mencionou em uma das apresentações que eu assisti: 

" Os clubes de futebol se tornaram agremiações políticas que por acaso também jogam futebol".

Na minha opinião os clubes deveriam ser organizações esportivas com fins lucrativos que devem produzir um produto de entretenimento de altíssimo nível para todos os stakeholders: torcedores, patrocinadores, mídia. Para isso a eficiência na gestão, sem interesses políticos e individuais, deve ser a prioridade.

Dessa forma não teríamos situações como as que ocorreram nessa semana, onde ficou claro que a falta de diálogo, de parceria, de clareza nos contratos, interesses individuais e políticos, além de não pensarem no todo, acabou gerando um grande conflito de interesses.

Já passou da hora dos dirigentes dos times de futebol declararem a verdadeira independência, criando a Liga Nacional de Futebol, onde todos os interesses mercadológicos seriam priorizados e situações como as que presenciamos corriqueiramente como alteração das datas e dos locais dos jogos, o excesso de jogos sem apelo, o horário das partidas no meio da semana seriam evitados através de um grande entendimento nacional.











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