Além das Quatro Linhas
No dia 14/04 postei mais um excelente artigo do Correio Brasiliense sobre o alto risco que os clubes brasileiros estão correndo em
perder torcedores para os grandes times europeus. Mais pesquisas começam a
surgir mostrando o aumento de torcedores de times europeus na faixa etária de
16 a 29 anos, diminuindo o interesse em torcer para os times brasileiros.
Segundo pesquisa de mestrado do meu amigo Rafael Alberico, o
hedonismo, a busca pelo prazer, além dos videogames, são os principais motivos
dessa escolha. De acordo com a matéria do jornal, o sociólogo Luciano
Paccagnella, da Universidade de Turim, filosofa: “O amor pelo Barcelona é o
amor pelo sublime”, acrescentando que “vivemos num mundo em que, da classe
média para cima, não há mais fronteiras”. Na visão dele, times e atletas
vitoriosos seguirão atraindo fãs sem importar o país.
Na mesma matéria, a psicopedagoga Telma Gualberto comenta: ”a
gente percebe crianças pequenininhas, de 3 anos, verbalizando Messi e Neymar.
Para elas, o futebol é muito próximo do brinquedo”. “Os jogadores ganham muito
dinheiro, são famosos, viajam, moram em outro país. É só encantamento, não há
uma dimensão concreta”. Podemos dizer que são vistos como super-heróis pelas
crianças devido ao que fazem em campo bem como a influência dos videogames.
A visão de negócio das grandes ligas e consequentemente dos
times que disputam essas ligas, que comercializam seus campeonatos para todo o
mundo, juntamente com o poder das mídias sociais, têm, como consequência, suas
marcas internacionalizadas. A matéria cita o Barcelona é o time mais popular do
Japão, o Manchester United domina China e Índia, na Argélia só dá Arsenal e o
Liverpool reina na Tailândia.
Atualmente, 75% das vendas de material esportivo oficial do
Real Madrid ocorrem no exterior. Tão importante quanto isso é a extensão da
torcida oficial. O clube registra 550 mil madridistas em 180 países, fãs que
pagam de 15 a 30 euros anuais. O faturamento do Real com essa rubrica é de 10
milhões de euros por temporada — o suficiente para pagar o salário de Cristiano
Ronaldo por seis meses.
Tudo isso foi possível devido uma visão além das quatro
linhas, tirando o foco do jogo, profissionalizando todas as áreas responsáveis
pelo incremento de receitas, com foco na gestão e na satisfação dos torcedores
bem como o aumento da base de fãs.
No Brasil ainda não saímos do século XX em termos de visão,
que continua com foco dentro das quatro linhas, onde apenas o jogo é o fator
preponderante para atrair torcedores. Mas é dentro dos gabinetes, onde a
política, os interesses pessoais e de pequenos grupos, visando se perpetuar no
poder, onde o jogo continua sendo realmente jogado. Exemplos não faltam: o
grupo de Ricardo Teixeira na CBF há 28 anos, Nuzman no COB e vários presidentes
de federações e confederações.
O resultado dessa cegueira está aí, corrupção, desvios de
verbas, falta de credibilidade, interesses pessoais acima do coletivo,
reduzindo o desenvolvimento do esporte, de novos atletas e de equipes de
qualidade no alto rendimento. Soma-se a isso o risco de violência, o alto preço
dos ingressos e uma série de campeonatos e jogos sem nenhum apelo.
Como resultado o torcedor vai perdendo interesse, se
afastando cada vez mais dos eventos e se divertindo, tendo prazer e admirando
ídolos e times através da TV e da tela dos smartphones, tablets e computadores,
além de comprarem muitos produtos oficiais dos mesmos.
Um torcedor pagaria para ir num show musical onde apenas 40
minutos houvesse música e por 60 minutos o vocalista da banda ficasse falando
ou discutindo com a plateia? Isso foi o que Palmeiras e Peñarol ofereceram aos
mais de 38 mil pagantes na última quarta-feira.
Se houvesse visão de negócio, muito além das quatro linhas,
essa situação nunca aconteceria, já que o foco deveria ser a preocupação em
ofertar o melhor produto possível para o torcedor e o espectador.
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